Onze milhões de pessoas estão apreensivos com o resultado da eleição presidencial americana. São imigrantes em situação ilegal.
De um lado, Estados Unidos. Do outro, México. A paisagem é idêntica. Mas o contraste entre as cidades dos dois países ajuda a entender a aventura de Luiz.
O mexicano cruzou a fronteira sem documentos. Sonhava em trabalhar no Arizona. Amargou seis meses na cadeia até ser deportado.
Quis o destino que Luiz nascesse do lado de lá desse mesmo pedaço de terra separado por uma grade. O sonho dele é o mesmo de milhões de pessoas que buscam as oportunidades do outro lado e que não se conformam com essa invenção do homem chamada fronteira.
Glenn Spencer comanda uma ONG que vigia a fronteira. Ele criou um sensor que detecta possíveis invasores pela vibração do solo e monitora tudo numa sala de controle.
Eu pergunto se os imigrantes não têm direito de buscar uma vida melhor nos Estados Unidos.
"Não. Eles não têm direito. Sem fronteiras, não existe país”, afirma.O candidato de Glenn é o republicano Donald Trump, que promete barrar a entrada de muçulmanos, deportar milhões de imigrantes ilegais e obrigar o México a pagar pelo muro "alto, poderoso e lindo" que pretende erguer.
Um trecho da barreira começou a ser construído pelo governo americano há mais de dez anos para deter o tráfico de drogas e a imigração ilegal. Nessa área do Texas, a grade tem mais de seis metros de altura. Mas será que é isso que resolve o problema?
As barreiras se estendem por um terço dos três mil quilômetros da fronteira. Em 15 anos, o número de imigrantes ilegais caiu 80%. Ainda assim, são mais de 300 mil pessoas por ano arriscando a vida.
Longe das cidades e da fiscalização, a rota pelo deserto atrai cada vez mais imigrantes - um caminho traiçoeiro. Com calor de mais de 40 graus, muitos não resistem à travessia. Só num trecho, foram 2.400 mortes desde 2000.
A fronteira também é um dos principais corredores do tráfico de drogas. O mexicano Andrés revelou à reportagem do JN que pretende levar nove quilos de maconha para os Estados Unidos. Muitos ilegais como ele vão parar nas mãos de Joe Arpaio, que se considera o xerife mais durão do mundo.
Arpaio ficou conhecido por obrigar os presos a usarem roupas cor-de-rosa, e é acusado de perseguir latinos. “Fiz do meu jeito”, ele justifica.
Aliado de Trump, o xerife diz que o muro vai desencorajar os traficantes que estão destruindo o país.
O professor da universidade do Texas Jeremy Slack discorda.
“Se os Estados Unidos são os maiores consumidores de drogas no mundo, elas vão chegar de alguma forma”, afirmou.
A esperança de Rafael é Hillary Clinton. A democrata pretende regularizar imigrantes que pagam impostos e não têm antecedentes criminais.
Rafael e a família foram do México para Las Vegas há 26 anos e enfrentam a ameaça constante da deportação. A casa vive com as janelas e as cortinas fechadas. Ao menor sinal de barulho, eles desligam a TV.
"É injusto. Eu sou mexicano, mas me considero americano. Foi aqui que eu cresci, isso é tudo o que eu conheço", disse.