Partido anti-imigração vence CDU no estado de Merkel
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Os Cristãos Democratas da chanceler Ângela Merkel foram apenas a terceira força mais votada no Land de Mecklenburgo- Pomerânia Ocidental - ex-RDA - atrás dos sociais democratas do SPD e do partido anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD).
Nem a participação da chanceler na campanha, sábado à última hora, com avisos aos 1,3 milhões de eleitores do Land contra a mensagem anti-imigração e anti-refugiados do AfD, conseguiu inverter o sentido de voto.
A imigração, o acolhimento aos refugiados e a sua integração, dominaram a campanha.
De acordo com resultados preliminares domingo e em relação às eleições de 2011, o SPD desceu dos 35,6 por cento para os 30,2 por cento e a CDU obteve 19,8 por cento, abaixo dos 23 por cento anteriores e o seu pior resultado de sempre no estado. O AfD conseguiu 21,4 por cento.
Já o partido de extrema esquerda Partido da Esquerda teve 12,5 por cento, abaixo dos 18,4 por cento de há cinco anos, enquanto os ambientalistas Verdes tiveram cinco por cento, abaixo dos 8,7 por cento anteriores. Com apenas 3,2 por cento, o neo-nazi NPD, fica de fora da assembleia pela primeira vez desde 2006, ao obter menos de cinco por cento dos votos. Falta um ano para as eleições federais e o resultado é um alerta poderoso para Merkel - que procura um quarto mandato - e o seu partido. Sobretudo, um alerta contra a sua política de imigração e refugiados. Isso mesmo sublinhou o próprio AfD.
"Isto é uma bofetada para Merkel - não só em Berlim também no seu estado de origem", afirmou Frauke Petry, co-líder do AfD. "Foi uma declaração clara dos eleitores contra as desastrosas políticas de imigração de Merkel. Isto colocou-a no lugar".
"A cereja em cima do bolo é que deixamos a CDU de Merkel para trás", rejubilou por seu lado Leif-Erik Holm, chefe de fila do AfD na região. "Talvez seja mesmo o início do fim para a chanceler Merkel", vaticinou.
À TV ZDF, Michael Grosse-Groehmer, um dos mais altos responsáveis da CDU em Berlim - onde haverá nova votação a 18 de setembro - , reconheceu que "isto não está bonito para nós". "Os que votaram no AfD enviaram uma mensagem de protesto".
O secretário-geral da CDU, Peter Tauber, reconheceu uma derrota "amarga" e considerou o voto do AfD como "de protesto". Lorenz Caffier, líder da CDU em Mecklenburgo- Pomerânia Ocidental, explicou a derrota dizendo que "havia só um tema, a política sobre os refugiados".
Em crescendo
SPD e CDU, que dirigiam desde 2006 o land - rural - na costa do Báltico, perderam vários lugares mas a sua grande aliança mantém a maioria dos 71 lugares na assembleia - 24 + 16 - com a Afd como segundo maior bloco, com 18 lugares. Contudo, é-lhe impossível dominar o parlamento local porque todos os outros partidos já recusam aliar-se com ele.
Já o SPD, afirma que mantém as suas opções em aberto, podendo aliar-se aos partidos da esquerda.
Fundado em 2013, o AfD roubou em março milhares de votos, sobretudo aos cristãos democratas e está representado em nove das 16 assembleias estatais alemãs.
De acordo com uma sondagem nacional do Emnidinstitute para o jornal Bild, publicada no domingo, se as eleições gerais fossem na próxima semana o Alternativa para a Alemanha ganharia 12 por cento dos votos, o que faria dele o terceiro maior partido nacional.
Em março o AfD obteve 24 por cento dos votos em Saxe-Anhalt (leste). Resta perceber se a 18 de setembro em Berlim, tal como agora, o partido irá mostrar a sua força.
Frente Nacional aplaude
O líder dos SPD e vice-chanceler Sigmar Gabriel tem apelado todos os partidos a encontrar argumentos "para que a cólera e a inquietude das pessoas não se centrem no AfD".
Em França, a Frente Nacional de Marine Le Pen felicitou os "patriotas do AfD" que, afirmou "varreram o partido" de Angela Merkel. "O que era impossível ontem tornou-se possível!" afirmou na rede Twitter.
Alguns analistas explicam o sucesso do AfD ainda com o facto de "muitas pessoas já não se sentirem representadas". Além das suas propostas contra os refugiados, os populistas "surfam" a onda de rejeição das elites, alimentada pela política de austeridade regional apesar do desenvolvimento económico no Land.
Da esquerda à direita, todos os partidos justificam o avanço do AfD apontando o dedo a Merkel, no poder há 11 anos. A taxa de aprovação da chanceler ronda os 44 por cento e ela poderá não conseguir um quarto mandato.
Merkel sublinhou nos últimos dias que a sua escolha de abrir o país aos refugiados era obrigatória. Dois ataques de refugiados cometidos no final de julho e reivindicados pelo estado Islâmico levaram-na a reforçar o tom securitário da sua política. Mas com fracos resultados.