30/04/2010 - 22:02
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Drogas

Bandidos brasileiros controlam drogas na fronteira com o Paraguai

Bia Ferrari
Soldados paraguaios realizam buscas em região dominada por narcotraficantes

Soldados paraguaios realizam buscas em região dominada por narcotraficantes (AFP)

As facções criminosas paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e carioca Comando Vermelho, que há muito tempo deixaram de atuar só no Brasil, hoje controlam todo o ciclo da produção de maconha no Paraguai. A informação é da Polícia Nacional paraguaia (equivalente à polícia civil brasileira), que falou a VEJA.com, em meio à polêmica sobre a segurança na fronteira após o atentado contra o senador Robert Acevedo. As investigações sobre o ataque apontam o PCC como principal suspeito.

Os bandidos do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho coordenam todas as etapas do tráfico de maconha no país: do plantio nas fazendas, localizadas na fronteira, à distribuição da droga em território brasileiro. "Eles (PCC e Comando Vermelho) dão sementes e dinheiro aos produtores e depois da colheita, pagam pela produção e a levam para o Brasil", disse o comandante da Polícia Nacional, Visitación Gimenez.

A imprensa paraguaia noticiou que, além do apoio logístico para o cultivo, os grupos criminosos brasileiros dão proteção aos produtores paraguaios. Eles subornam a polícia e as autoridades locais para que não haja qualquer interferência no processo. Estabeleceu-se, assim, uma espécie de "associação comercial" para o tráfico.

Distribuição - O Paraguai é um grande produtor de maconha. A Polícia Nacional estima que até 5.000 hectares de terra espalhados pelo país estejam tomados pelo cultivo da planta. Cerca de 80% da produção é levada ao Brasil, segundo a Secretaria Nacional Anti-Drogas do Paraguai (Senad). A maior região produtora está no departamento de Amambay, norte do Paraguai, exatamente o mesmo local onde Acevedo sofreu o atentado.

Os grupos PCC e Comando Vermelho disputam o controle do tráfico na região. Quase todos os chefes locais das facções criminosas são brasileiros e muitos integrantes do bando chegam ao país porque são procurados pela polícia do Brasil. Os criminosos assumem novas identidades, se disfarçam de empresários ou fazendeiros. "Existem outros grupos atuando na região, mas os que tentaram entrar no caminho do PCC e do Comando Vermelho já desapareceram", disse Miguel Chaparro, diretor de operações da Senad.

Os bandidos brasileiros também dominam o tráfico de cocaína na tríplice fronteira. A droga produzida na Bolívia é levada ao Paraguai em pequenos aviões e chega ao Brasil por terra. O mapa abaixo mostra algumas cidades dominadas pela bandidagem, que as autoridades ainda não conseguiram vencer.

 

Histórico  - O processo de identificação e prisão dos integrantes do PCC e do Comando Vermelho na fronteira começou há quatro anos, segundo Miguel Chaparro. Mas a história de quadrilhas brasileiras que controlam o tráfico na região é bem mais antiga. Tudo começou na década de 90, quando o líder do Comando Vermelho, Fernandinho Beira-Mar, se mudou para o país e começou a acompanhar as atividades de perto.

O traficante se associou ao brasileiro João Morel - conhecido como Rei da Maconha - que controlava o tráfico de drogas em Capitán Bado, no Paraguai. Em um ajuste de contas, Beira-Mar encomendou a morte de Morel e sua família. Após o assassinato de Morel, vários traficantes brasileiros se estabeleceram na região e construíram pequenos impérios. Posteriormente, esses traficantes fizeram alianças com o PCC e o Comando Vermelho.

Atentado - O senador Robert Acevedo, que é do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), foi vítima de um ataque no dia 26 de abril, em Pedro Juan Caballero. A cidade paraguaia, capital do departamento de Amambay, faz fronteira com Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. O segurança e o motorista do senador morreram. O político, que ficou ferido, recebeu alta do hospital na noite de quarta-feira.

Os departamentos de Amambay, San Pedro, Concepción, Alto Paraguay e Presidente Hayes estão em estado de exceção, condição que permite ao Poder Executivo realizar prisões sem ordem judicial, proibir reuniões públicas ou manifestações e impor toques de recolher.
 

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