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Na fronteira entre a tecnologia e a cultura, o internetês

Edição das imagens: 
Everaldo Silva

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[6/7/2010] O Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) está promovendo nesta terça e quarta-feira (6 e 7) o colóquio “Letramento, fronteiras e cultura digital”, mesmo título do projeto de pesquisa coordenado pelo professor Marcelo El Khouri Buzato, com financiamento da Fapesp. “Nosso grupo estuda novos letramentos surgidos basicamente no computador, incluindo o conceito de fronteira, que no caso é aquela entre o tecnológico e o cultural”, explica o docente do IEL.

No âmbito do projeto de pesquisa, as práticas digitais são vistas como práticas sociais que viabilizam a apropriação de letramentos digitais em diferentes contextos e domínios, e que potencializam dinâmicas de transformação em letramentos tradicionalmente estabelecidos. Espera-se, como resultado, um conjunto de subsídios teóricos e práticos voltados ao ensino, ao design de sistemas e interfaces digitais, e à formação de lideranças escolares e comunitárias que buscam a inclusão digital no país.

Como palestrantes do colóquio, Marcelo Buzato convidou os professores Júlio César Araújo, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que expôs suas “Considerações sobre o internetês: mobilizações e processos epistêmicos” na manhã da terça-feira, e Marko Synésio Salves Monteiro, do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp, para falar na nesta quarta sobre “A produção de sentidos na prática científica: etnografando visualizações digitais”.


internetes_julio_290x240_.jpg“A ideia do evento é juntar duas falas: de um lado, um estudioso do relacionamento entre jovens nos chats da Internet e como isso afeta a escrita deles; do outro, um antropólogo mostrando como pesquisadores que desenvolvem tecnologias para imagens médicas do corpo utilizam, em suas práticas científicas, as mesmas estratégias comunicativas que os meninos frequentadores de chats”, explica Marcelo Buzato.

Júlio César Araújo vem estudando as práticas na Internet desde 1999 e passou a orientar pesquisas sobre o tema a partir de 2006, quando defendeu seu trabalho de doutorado tratando das escritas surgidas nas salas de bate-papo. “O internetês é uma manifestação de linguagem que recebe esse nome por que se ambienta na Internet, mas nem toda linguagem na rede é internetês. O termo, na verdade, se refere às práticas informais de escrita, como as que acontecem em salas de bate-papo e no MSN”.

Na opinião de Araújo, o internetês vai muito além de vocábulos estranhamente formados, nem representa uma mutilação da escrita ou ataque ao idioma, como criticam alguns puristas. “É uma estratégia discursiva de sobrevivência, uma enunciação digital que impõe ritmo e características que lhe são peculiares. Se é enriquecedor? Qualquer linguagem que atenda às necessidades do sujeito, o enriquece. Agora, se não há harmonia no local onde se enuncia, nem um acordo tácito entre as pessoas que estão papeando, aí vira um problema”.